TORMENTAS-01

É mesmo engraçado quando os fatos acontecem e notamos que fomos omissos à nossa vontade. Somos conduzidos pelo tempo e quando percebemos estamos à deriva de um barco naufragando e já não temos muitas opções de direções a seguir. A vida é assim, o tempo é o leme que nos escapa ao controle e muitas vezes somos levados sem rumo. Numa dessas tempestuosas situações me deparei com um câncer de mama, bem no início, descoberto a tempo de evitar o naufrágio de minha embarcação. Era um dia de sol e o relógio marcava onze horas e quarenta cinco minutos, acabara de chegar da escola onde dava aulas para alguns alunos ditos impossíveis. Entrei em casa, morava em frente à escola; fui até meu quarto para guardar o material escolar e me preparar para a segunda etapa do dia, alfabetização para idosos. Minha mão foi conduzida até minha axila esquerda, não me lembro de ter planejado essa ação, eu nunca me auto-examinava, ali estava ele, o nódulo. Fiquei tranquila pois não acreditava que pudesse ser nada. Marcada a consulta com a minha médica, fui no mesmo dia, ela examinou e pediu para realizar uma bateria de exames, então solicitou uma biópsia, dia 24 de setembro de 2007, me lembro dessa data como se fosse hoje. Uma semana depois fui saber o resultado da biópsia,dia 01 de outubro. A médica pediu a presença de meu esposo, "Marina, eu vou te acompanhar em todos os procedimentos, estarei presente durante a cirurgia", não entendendo nada indaguei o que estava acontecendo, foi quando ela falou que eu estava com câncer e precisava fazer a cirurgia urgente, indicou um mastologista, fomos no mesmo dia até o consultório e marcamos a cirurgia para o dia 08 de outubro. O pior momento foi passar no apartamento da minha filha e olha-la pensando que aquela poderia ser a ultima vez que estava olhando para ela, tanta coisa passou em minha cabeça, as formaturas que eu não estaria presente,os risos e choros que não compartilharia. Ganhei fôlego para deixar as coisas organizadas, preparei as aulas que seriam ministradas pela professora substituta; fui até a faculdade e expliquei a situação aos professores, me despedi da turma entre choros e promessas de reencontro. Me tranquei por dentro e proibi meu esposo que contasse o fato aos meus pais e meus filhos, não queria vê-los preocupados. Passei por exames muito doloridos antes da cirurgia. Dia 08 de outubro às 07 horas dei entrada ao centro cirúrgico.

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