TORMENTAS-04


Iniciei o tratamento de radioterapia e parecia que tudo seria normal e meu tratamento teria o percurso esperado, mas novamente meu organismo gritou e logo começaram a aparecer bolhas, eram as reações da radio que estavam acontecendo de maneira rápida, aliás bem mais rápido que o esperado.
O médico falou que já havia ouvido algo a respeito das reações que meu organismo sofria a tratamentos,  algo do tipo " me falaram que seu organismo reage de maneira bem extremista, que com você é oito ou oitenta, que não tem meio termo", após falar isso ele sorriu e indicou um creme para queimaduras, eu estava em carne viva e não suportava a roupa encostando em mim, andava com o braço esquerdo levantado, o creme aliviou um pouco, mas não melhorou e o tratamento não poderia ser interrompido, toda quinta feira às 9 horas eu estava na clínica para mais uma sessão tortura, embora soubesse que era necessário, o tratamento me fazia pensar em parar devido ao desconforto, mas não parei, segui firme, forte e com foco.
Numa dessas manhãs à caminho da clínica comentei sobre a dor que sentia, foi quando desviamos nosso trajeto e fomos procurar uma dermatologista que diagnosticou um início quase imperceptível de câncer de pele, ela aconselhou parar com o tratamento, fiquei em pânico, fomos até a clínica e relatei o fato ao médico, ele falou que eu estava no finalzinho do tratamento, faltavam algumas poucas sessões e poderia ser mais viável seguir orientação da dermatologista e parar o tratamento.
Os médicos que me acompanharam tanto na quimioterapia quanto na radioterapia são irmãos e trabalhavam na mesma clínica, fui ao consultório do oncologista que prescreveu o tratamento de hormonoterapia com o uso do tamoxifeno, tomaria um comprimido ao dia durante cinco anos.
Novamente deveria ser tranquilo, esse tratamento geralmente é, não fosse novamente o meu organismo gritar extremamente com o uso da droga, com alguns meses de uso eu ligava para meu médico e relatava imensa falta de ar, sentia dificuldade para respirar, quando estava mastigando precisava pausar e puxar o ar pela boca, sentia muito desconforto e estava bastante inchada.
Em uma das vezes que liguei reclamando do inchaço, meu médico disse ser normal devido à droga reter líquidos, mas sugeriu que eu fosse ao consultório para uma consulta de rotina, quando entrei ele se assustou ao me ver, pediu para falar com meu esposo e pediu uma consulta com um angiologista, era sexta feira e não foi possível agendar para o dia em questão, marcamos para segunda feira, voltamos para casa e a falta de ar me incomodava tremendamente. Não deu tempo de consultar com o especialista, no domingo pela madrugada dei entrada na UTI e lá permaneci por vinte e três dias, os médicos não conseguiam diagnosticar a doença e eu inchava sem parar, minha pele parecia que rasgaria a qualquer momento, tal era o inchaço. Durante algum tempo na UTI, meu corpo ficou inerte naquele leito,  não  conseguia reagir aos  relatos das enfermeiras, em um desses relatos ouvia uma delas falando que alguém havia falecido com o mesmo quadro em que eu me encontrava, se eu pudesse gritaria com elas e mandaria que se calassem, era horrível ouvir falar de mim sem que eu pudesse me manifestar, tinha um homem que gritava muito na UTI, ele pedia para vira-lo e desvira-lo o tempo todo, e eu ouvindo tudo. Quando fui para o quarto ainda respirando com a ajuda do oxigênio e fazendo fisioterapia para reaprender a respirar, também tinha uma bolinha que eu massageava com as mãos para ajudar na circulação. O pior de todos os momentos pós UTI foi quando consegui me levantar e me olhei no espelho, entrei em desespero ao me reconhecer apenas no olhar, aquele corpo não era o meu, estava com quase vinte quilos de inchaço, eu chorei muito e a equipe médica ficou sem saber o que fazer, eles pensavam que eu era obesa e alguns deles comentaram que eu não estava aceitando o fato de estar "gordinha", num rompante de desespero eu pedi para que minha filha levasse fotos minhas para o hospital e mostrasse aos médicos, falasse a eles que eu não era daquele jeito, quando ela chegou com as fotos eles não acreditaram, começou a verdadeira investigação sobre o diagnóstico daquele doença repentina e sem explicação.


Respeito