"E de repente descobrimos quanta vida há fora de nós" (Lorrane Liberato)

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devoção à santa prepotencia
adoração à maluquiice conviniente de ser
santos são demônios de coroas
o tumor maligno da humanidade hipócrita
o câncer do mundo é a dissimulação

cães que mordem e depois lambem,
a esses pertence o inferno
seus olhos disfarçam as lanças
seus venenos estão nos beijos
mal dados, doados, falsos

escrevo e acredito em mim
não esmoleça seu fingimento
ja te matei em vida, simples ainda
não vou beijar-te o coração envenenado

da vida só espero a morte
dos amigos um olhar sincero
Eu escrevo sobre o que acredito
não atiro pedras de isopor
não coloco pimenta na dor, nem sopro

fantoches programados
é o mundo impregnado de falsos sorrisos
faça uso de boa máscara
para que te tornes mais gente

Marina Liberato

Lirismo

EXISTEM COISAS MARCANTES NA VIDA
CHUVA EM DIA DE SOL
ANDAR DESCALÇO NA AREIA
TAMPAR O ROSTO FRENTE A UMA SURPRESA
CHORAR DE EMOÇÃO
SUSPIRAR DE SAUDADES
SENTIR CHEIRO DE TERRA
VENTO NO ROSTO
CHEIRINHO DE REFOGADO NO ALHO
DE BOLO DE FUBÁ, AINDA QUENTE
DE GRITOS DE CRIANÇAS, LEMBRANÇAS
VONTADE DE ESQUECER
QUANDO TUDO QUE SE PODE É LEMBRAR
TENTAR LEMBRAR
QUANDO JA É PASSADO LONGE E QUASE APAGADO
ESPETAR O DEDO NUM ESPINHO, FLOR
OLHAR UM NINHO NUM GALHO
CHUPAR JABUTICABA DIRETO DO PÉ
MANGA COM SAL, QUASE VERDE
MORDER A PONTA DO LÁPIS
O LÁBIO INFERIOR, ROER UNHA
GOSTAR DE DORMIR DE BRUÇOS
ACORDAR COM O SOL ENTRANDO PELA JANELA
TENTAR LEMBRAR UM SONHO
ESQUECER UM PESADELO
EXISTEM COISAS DEMAIS
UMAS BOAS, OUTRAS NEM TANTO
A VIDA É MARCADA DE SAUDADES
DE BOAS LEMBRANÇAS
UMAS BOAS, OUTRAS...
NEM TANTO...MAS EU ESTAVA LA


MARINA LIBERATO

Lembranças

Se fecho meus olhos, posso sentir,
Cheirinho de bolo e de leite quentinho
Mamãe na janela sempre a sorrir
Feliz espalhando amor e carinho

Tinha o cochilo depois do almoço
Papai se deitava na rede da varanda
Nós brincávamos em grande alvoroço
Mamãe na cozinha preparava a quitanda

À tardinha papai com seu violão
Ficávamos atentos pra ouvi-lo cantar
Em todas as modas pedíamos refrão
Papai repetia pra nos agradar

A tristeza veio sem avisar
Mudamos pra cidade, para estudar
O sorriso da mamãe, vi apagar
O canto de papai se calar e seu violão vi encostar

Nos olhos de meus pais, pude perceber
Tinha a dor do arrependimento
Suas alegrias eu via morrer
Em cada segundo, a cada momento

Papai nos criou com tanto zelo
Mudou sua vida em nosso favor
Me dói na alma, tão triste vê-los
Ele é o exemplo do próprio amor!

Ah! Infância querida, quanta saudade
Montava sem sela, quanta liberdade
Levava a vida sem preocupar
Que aquela magia podia acabar

Me pego chorando só, escondida
Buscando talvez a graça da vida
Tenho a criança no peito encolhida
Me sinto criança, embora crescida

Meu mundo perdido, sonho encontrar
Se encontrar não quero acordar
Deixem as nuvens meu sonho embalar
Sei que nos sonhos não vão me roubar

Eterna criança no céu a brincar
Estrela a noite, sorrindo a brilhar
Criança-estrela, no carroCéu a cavalgar
O sonho é magia. Posso sonhar!